terça-feira, julho 29, 2014

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quarta-feira, junho 13, 2012

pediram pra que eu voltasse a atender o telefone. a caixa de mensagens
anda lotada. a minha doença não diz nada. mas eu digo que não tenho
essa vontade, nem quero ter. o quarto escuro me diz mais do que
qualquer outra voz ôca.
não me peça mais uma vez. talvez, um dia, eu
volte a abrir a porta. não bata com tanta força. não esmurre. não faça
suas mãos sangrarem à toa.
já faz tempo eu vi aquela agulha e a
linha cirúrgiacas, ali, por perto do hall de entrada, pensei que um dia
fossem derreter. não imaginei que seriam usadas por alguém que tentasse me
atormentar. bem feito. pelo menos, isso.
só quando quero não preciso agradar nem desagradar. apenas, cumprir com minhas responsabilidades.
não
quero, mas quero lhe contar que me envolvi com o mecânico. borracheiro.
com sua bolinha em cada fim de linha. seus jeans clichês e assobios
sombrios, como num filme nacional com lançamento tardio.
pornochanchadas. e seu cheiro de graxa. sua sujeira. seus sapatos
bicolores de bico fino bem lustrados compensam suas unhas sujas. tendo
ou não máquina de refrigenrantes por perto, pra gente se refrescar. faço parte das suas tramas e camas. as estradas estreitas ou
largas por onde passa e ganha sua miséria consertando os caminhões de
motoristas hipocondríacos e cheios de rebites na lata. lataria que
conhece cada buraco. cada marca no asfalto, mesmo que usem o piche pra
reconstruir. quatro bolinhas dizem mais do que qualquer psiquiatra com
conta recheada e super carro com tração nas quatro rodas. por isso
comprei um vestido. modelo tipo anos 40. só pra homenagear.

sexta-feira, abril 18, 2008

será que ainda sei escrever?

quinta-feira, março 29, 2007

mudança.


pois é, pessoal.
to me mudando pro Selva.
um projeto pra lá de legal.
um concentrado de blogs de arte, fino trato.
alto nível, juro.
só gente muito boa.

meu novo endereço a partir de agora (por esses dias fica pronto), e por tempo indeterminado é http://naselva.com/nana (blog pessoal).

e toda terça: http://naselva.com/brutti
reunião de selvagens.

espero vocês lá.
ansiosa.

nova cara, novos textos, gente nova.
beijundas.

sábado, março 03, 2007

Necessidade Fisiológica, Psicótica Diagnosticada & Selvageria.

O telefone toca. O fulano me chama pra tomar um drink. Ao fundo, barulho de gotas d'água caindo numa pia de inox.

Audição aguçada, mas teimosa.

- Te ligo de volta em uma hora, querido.



Preciso de diagnóstico.



Mal sabe a criatura que meu ânimo foi embora, privada abaixo. Dor de barriga das grandes depois do porre de ontem. Pra completar o azar dele - e do menino que precisa de transplante de medula urgente - os aeroportos brasileiros não funcionam mais.



As guimbas de cigarro lotam todos os cinzeiros espalhados pelo meu quarto colorido - verde abacate, laranja e lilás. Um amigo diria que é o quarto de uma princesa em decadência.

É muito, babe.

Cinzas voam na hora que ligo o ventilador de teto branco encardido e se juntam aos farelos dos biscoitos das crianças no chão, e aos meus papéis inúteis e livros sobre a mesa. Roupas jogadas, espalhadas em cima da cama, das prateleiras. Calcinhas sujas, mamadeiras sem lavar há três dias. Duas xícaras de café frio, uma de café quente. Um frasco de repelente, tesoura de unha, alicate de cutícula e esmalte vermelho. Olho pra tudo isso e me dá ânsia de vômito, preguiça também.



Em algum lugar do orkut: "somos involuídos."



Não estou afim de me embelezar e sair com o fulano. Pra falar a verdade, nem afim de tomar banho estou.

Num sábado qualquer, ele perguntou o que espero de um encontro nosso. Um drink? Um café? Uma trepada? Um drink e uma trepada? Aí gozou, e não consegui mais ver seu rosto de menino da FEBEM. Lambuzou toda a webcam. Melhor. Assim não tive que responder enquanto babava por sua punheta.

Um dos cretinos mais deliciosos que já vi.

Sentidos e sentimentos.



Não quero pensar no que vai ser. Nem com ele, nem com ninguém.

Sempre digo isso: quero sentir, me permitir. Se for bom, ótimo. Se não, me fodo sozinha, até encontrar outro.

É que meus dedos são bem ágeis.



Está na cara que espero um cara. Mas, na verdade, não sei se é ele, ou aquele da semana retrasada. Esse, trata o amor como um negócio: tenta analisar, avaliar, calcular. Depois supõe o resultado, lucros e prejuízos do investimento.



Perdeu, mané.



Pelo menos, o fulano é intenso. Se amar, amou.

Sabe que pode ser mais feliz. E goza gostoso. Senti o cheiro daqui, assim como ouvi as gotas d'água caindo na sua pia de inox.





Está ali, guardado, o que sobrou do meu investimento. O resto do vinho que comprei pra tentar seduzir o outro, da semana retrasada, na praia. O que escolhi.

Sério, caía uma chuva fina que eu nem sentia, muito menos ele.

Pelo menos, durante um longo tempo.

Maré alta.

Reluzia nas pedras e mar o amarelo da orla.

Sereias e feiticeiras.

"Sim, foi bom. Mas, e aí?"- o maior de todos os cretinos.



(con)gelado.



Amor e dinheiro jogados fora.



Esses caras enchem a boca pra falar de amor. "meu coração é seu, quero viver só pra te amar." – como são bonzinhos. Eles amam de verdade, gente. E, pra completar, são pra lá de poéticos. Ha-ha.



A sorte é que ainda consigo ser uma puta de marca maior, e não fico magoada por qualquer bobagem.

Puta e má.

Sorte do sujeito de não ter sentido o gosto da fúria de uma fêmea rejeitada, como Bill sentiu.



Durante essa semana, na segunda-feira, joguei três camisinhas usadas, sabor morango, do 11º andar de um prédio em Copacabana. Elas caíram ao lado de um Sr. que lia o jornal sentado num banco, debaixo de uma amendoeira. Ele olhou pro saquinho transparente onde estavam as camisinhas, levantou e foi embora. O que será que ele pensou?



Eu queria que o mundo soubesse que foi uma trepada bem boa. Mas ainda falta alguma coisa. E quando percebo isso, me dá vontade de trepar mais pra tentar encontrar o que falta.

Alta rotatividade.

Sempre a mesma história.

Ciclo vicioso, cadeia alimentar.

Necessidade.

Eu como o Rafael, que come a Rafaela, que come o Paulo, que come a Samatha, que come o Rafael, que me come, e pra fechar, dou uma boa chupada no Paulo. Que cospe na minha cara e me chama de vaca porque descobriu que eu e Rafael nos comemos.

Assim eu (g)amo.



Vertigem e voragem.



Meu ar condicionado quebrou, e o ventilador de teto é péssimo. O calor aumenta, e com esse vento quente e seco, meus lábios começam a rachar.

Ponto pro HIV.



Tenho andado em casa só de calcinha por causa do calor.

Atendo a porta assim, quase nunca é alguém interessante. Na maioria das vezes, só o vizinho pedindo um favor. Quando é algum peão, dá pra fantasiar.



Pego um cálice e bebo o resto do maldito vinho, gostoso. Penso em sair, dar umas voltas e beber um pouco mais. Tem um barzinho bacana aqui perto; bomsom. Mas mais uma trepada pra minha lista infinita não está nos meus planos, pelo menos, hoje não. E é sempre isso que acaba acontecendo.



A Marília diz que não sou mais sua estrunchadora predileta .

Parei de contar, não sei quantas fodas já dei na minha vida. É melhor beber o vinho, escrever um pouco, e deitar na minha cama ouvindo Body and Soul, e Lamento do ensaio pianístico do Luiz de Simone. Encharcar meu corpo com um hidratante bem gostoso, ficar cheirando a chocolate.

Carinho em mim.

E com o cálice de vinho na mão, recosto nas almofadas felpudas da minha cama. Acostumei com o escuro, não acendo mais as luzes. Tenho a sorte de ter uma janela bem grande no meu quarto. Vejo muito céu.

E o balé das árvores.

A luz da lua me deixa mais bonita, e mais triste.

Hoje, Cat Power do Paulo Castro me inspira. O blues da Carol Custódio, também.

Durante algumas semanas não chorei.

Em outras chorei demais.

Suavidades selvagens.

Quem vê?



Quero pisar em corações. Pisar no lixo. Misturar tudo, fazer de tudo uma coisa só. Minhas mancadas são grandes. As dos cretinos são bem maiores. Rosas são compradas por mim, pra mim. Tenho paixão por girassóis, por mim, pra algum alguém. Tenho um afilhado e uma cama Kingsize. Respiro amor, e talvez morra intoxicada. Por isso, não protejo seu nome, nem o meu. Sempre o foda-se. Quero destruir todos os CD's da Billie Holliday e cortar os dedos do pianista.

Não vai passar, não quero a alvorada.

Quem viu?



O exagero agora é meu.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Triste fim (?)

Um amigo escreveu pra mim.

Triste fim de noite da menina Joana... Pupila dilatada, sem parar de chorar, sem cigarro e cem pensamentos voltados na reconquista do território perdido. Pela manhã lê o horóscopo e lá diz: “tempo parcialmente nublado com possibilidades de chuva”. Mas ela não dá bola, sabe que seu elemento é o fogo e busca alimenta-lo. Resolve lutar com unhas (pintadas de vermelho) e dentes. Escolhe seu melhor vestido de domingo para uma segunda-feira de cinzas, desmarca reuniões e liga para sua amiga confidente para um papo cabeça. Pronto! Coração confortado, mas ainda inquieta, resolve distribuir abraços na multidão, torcendo que a esperança não morra antes que o Cretino se comova. Avessa a razão, decide convidar o Cretino para um coquetel de TNT. O que é isso? É um ultimato, um eu te mato se você não acabar com esse impasse! Invada-me ou me liberte, ou dá... Ou desce!!!

Por Diógenes Buarque.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Entre a Vitrine e o Sonho.


Ele deu uma longa golada na cerveja, olhando pra mim, como se mergulhasse no meu corpo, de olhos bem abertos, conseguindo enxergar meu útero, minhas veias, artérias, os miolos efervescentes do meu cérebro; e degustasse o tempero misturado de tudo isso, junto à cevada.
Apoiou a latinha na arquibancada da arena, na praça dos arcos, sob a lua reluzente. E não olhava pra ela. Continuava mirando em mim, sem piscar.

Cada vez mais a pupila dele dilatava, e delatava o que sentia, enquanto sorria e passava a língua nos lábios - quase incontrolável ver aqueles lábios sem beijar, e querer sentir gosto de preliminar perfeita. - Entoou a voz de menino, tentou fazer grossa pra dar mais moral à barba de homem, querendo descobrir, carinho, pegada. Pegou forte meu braço, e perguntou quando nos conheceríamos de verdade.

A verdade dos navios que se cruzavam em guerra. Canhões, cólicas, crises convulsivas, vômitos, larvas e miasmas. Crianças gritando, panela chiando, televisão cantando Disney.


Meus olhos abriram, pesados.
Pare. A placa de trânsito bem na minha frente dizia: pare.

Os carros frearam; trânsito congelado. Só conseguia ver luzes, de todas as cores; faróis, lanternas, outdoors, os BR’s verde-amarelo dos postos de gasolina. Os meninos da Lapa não corriam mais pela arena, os pipocos de tiro do Morro dos Prazeres, e o batuque da fina flor do samba do outro quarteirão silenciaram, o trance estacionou, pick-ups desligadas, o burburinho amarelado da multidão-voz abafou, o orgasmo do casal atrás do carro; sem limite, nem medida.
Pessoas-estátuas, ali, com lágrimas-gargalhadas cristalizadas no rosto. Cervejas empedradas em copos vagabundos de plástico, cabelos plastificados refletiam o dourado das bolsas Louis Vuitton, que se misturavam aos meninos-dourados da rua. Sem medo.

Ele ainda olhava pra mim. Engoli o ar, e não me atrevi a pegar a latinha de cerveja pra desentalar o bolo vazio, que se instalou entre a garganta e meu peito. Não conseguia me mexer.
Evoquei todos os meus demônios. Queria ser inoculada por maldade.
Implorava uma tragédia que chamasse sua atenção.
Estalei os dedos, um a um. Comi os lábios, as carnes mortas do interior da boca. Olhei dentro dos olhos dele, tentando dizer;

Eu: resto de construção desmoronada, decadente. Sem possibilidade de restauração. Na maioria das vezes, termino meus dias no boteco da saída do túnel, implorando uma dose extra de vodka barata, fumando filtro de cigarro extra-forte, com filhos mortos de fome chorando na barra da saia.

Sim, amava todos os seus detalhes, percebia nele a configuração mais concreta do meu desejo.
Mas quando chegava perto, era como se apreciasse uma vitrine. Sintia meu coração pobre. E os demônios que evoquei eram mais que presentes.